Estava eu fazendo uma pesquisa na net para a faculdade quando me deparei com essa matéria no site http://www.dcomercio.com.br/ , achei bacana e resolvi postar aqui em homenagem aos meu amigos Mauricius e Dani Boy da Mooca. Conta sobre Enersto Paulella, o "Arnesto" do samba de Adoniram Barbosa, e remete a antiga São Paulo.
Perto de completar 92 anos, perfeitamente lúcido, Ernesto Paulella ainda se lembra muito bem dessa história, do samba que Adoniran Barbosa fez em sua homenagem: “Ernesto... Arnesto é melhor. Até porque Arnesto dá samba” Por Tim Teixeira.
O Arnesto nos convidô prum samba/ Ele mora no Brás” é o que diz a letra de um dos sambas mais famosos de Adoniran Barbosa. Mas não é verdade. O Arnesto - na verdade, Ernesto - mora na Mooca. Aos 91 anos, perto de completar 92, perfeitamente lúcido, Ernesto Paulella ainda se lembra muito bem dessa história.
É verdade que nasceu no Brás, na rua Flora, onde os pais - imigrantes italianos da região de Nápoles - haviam se instalado desde que desembarcaram no Brasil em 1896. Mas cinco anos depois já estavam na Mooca, na rua Andrade Leão, e na Mooca iriam construir sua história de vida. Tinha 16 anos e trabalhava numa papelaria no Brás quando comprou seu primeiro violão, para fazer serenatas com o pai, que, além das habilidades no ofício de sapateiro, exibia também qualidades como tenor. Algum tempo depois juntou-se a alguns colegas de serviço para formar o conjunto “Chorinho da Madrugada”. Começaram a tocar no programa de Nhá Zefa, na Rádio Bandeirantes, que tinha seu estúdio na rua São Bento. Um dia foram dar uma “canja” na Rádio Record, na rua Conselheiro Crispiniano. E é ali que a história vai começar, pois Adoniran Barbosa estava na porta.Nhá Zefa fez as apresentações, Adoniran pediu um cartão, olhou e murmurou:- Ernesto Paulella. Não seria melhor Arnesto?Ernesto não entendeu. Adoniran emendou:- É, Arnesto é melhor. Até porque Arnesto dá samba.
Ernesto continuou sem entender. Mas, antes de se despedirem, Adoniran ainda lhe disse:- Vou fazer um samba com o seu nome, você duvida?A empatia surgida naquele momento se transformaria em grande amizade, alimentada por longos papos na Leiteria Pereira, na esquina da rua São Bento com a praça Patriarca, onde Ernesto tomava água Prata e Adoniran variava entre o conhaque e o Martini. E de onde os dois partiam para tocar nos bancos da praça da Sé.Era início dos anos 40 e, a partir daí, os dois tomariam rumos diferentes, para só voltarem a se cruzar mais de quinze anos depois. Ernesto casou-se em 1941, com Alice, com quem teve seis filhos, um dos quais (uma menina) morreu tragicamente ao escapar das mãos do médico na hora do parto.Nesse período, depois de passar pela rua Madre de Deus e pela rua do Hipódromo e já morando num sobrado da rua Tagi, próximo da rua dos Trilhos, viu a Mooca se transformar. A começar pela praça existente ao lado da sua casa (hoje praça Kennedy), na época reduto inexpugnável do 5 de outubro, um dos times mais valentes da várzea da Mooca. E também pela própria rua dos Trilhos, onde existia apenas um córrego e onde na época de menino seus colegas costumavam caçar passarinhos. Depois veio a Radial Leste, construída sobre a antiga rua Conselheiro Justino e que roubou cinco metros do seu quintal.
E estava exatamente ali, no quintal, num dia de 1955, quando ouviu pela primeira vez pelo rádio o “Samba do Arnesto”, cantado pelos Demônios da Garoa.Chamou a mulher:- Alice, essa peteca é minha! - Que história de peteca é essa, Ernesto? - É o samba que o Adoniran disse que iria fazer para mim. Comovidos, os dois se abraçaram. “Não deu para não chorar”, lembra ele hoje, novamente com os olhos úmidos.
Mas ainda se passariam dois anos até que Ernesto conseguisse reencontrar o amigo. Convidado para fazer uma apresentação na TV Record, na avenida Miruna, estava nos corredores da emissora quando apareceu Adoniran Barbosa. Os dois se abraçaram e Adoniran perguntou:- Arnesto, você gostou do samba que eu fiz pra você?- Se gostei? Você quase me abriu ao meio de emoção.- Então, me dá um abraço, que você é meu cumpadre.Os dois se abraçaram novamente, mas Ernesto não deixou de reclamar:- Mas você me deixou mal com essa história de dizer que eu dei mancada, que deveria ter deixado um recado na porta. Todo mundo me cobra isso.Adoniran puxou o amigo pelo braço, deu uma piscada:- Arnesto, segura essa: se não tinha mancada, não tinha samba.Adoniran voltaria a emocionar o amigo doze anos depois, no programa Clube dos Artistas, comandado por Ayrton Rodrigues, na TV Tupi, quando lhe entregou autografada a partitura original do “Samba do Arnesto”.
O violão espanhol comprado em 1930 na Loja Salmeron, ali ao lado da praça da Sé, e que deu origem a toda essa história, ainda está guardado - em perfeito estado - num canto da sala. E é a ele que recorre para dedilhar alguma música, quando bate aquela vontade de lembrar um pouquinho do passado.
2 comentários:
... e viva a Mooca meu...
Obrigado por lembrar e mencionar-me no início da matéria. Estou procurando um advogado para ver se cabe algum tipo de processo judicial.
Ficou muito bom!
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